emigrantite

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emigrante
(latim emigrans, -antis)
adj. 2 g. s. 2 g.

Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro.




as manhãs são mais bonitas e tranquilas quando acordo por cá. apetece-me sempre fazer mil coisas ao mesmo tempo e acabo, quase sempre, por passar a manhã à mesa a rir-me de coisas parvas, que tenho vergonha de contar aqui.

tenho um amigo que tem vergonha de comprar papel higiénico. e preservativos. isso não me faz rir, mas não percebo.

muitas vezes rio-me do que não percebo.

por cá os passeios, mesmo quando estreitos, têm o tamanho à minha medida.
é bom saber que nunca estou grande demais, nem pequena demais. tenho o tamanho certo, apesar de achar que fico mais pequena do que o costume. não sei se encolho com a humidade marítima. não tenho a certeza.




os sinos tocam mais baixinho aqui. juro.
nem sabia que existiam sinos nas igrejas até me mudar de cidade.



o almoço vem de bicicleta. do mar e sempre sempre bem-disposto, mesmo sabendo que vai ser comido. 

hoje lembrei-me que pior do que uma máquina de roubar a metafísica aos homens, seria uma máquina que roubar a capacidade de nos rirmos de nós próprios. ou de nos rirmos e ponto final. espero que ninguém a invente.





às vezes encontro o meu melhor amigo de infância. tem um gato que se chama tarzan. dos 6 até aos 18 anos via-o todos os dias (ao amigo, não ao tarzan). agora vejo-o, mais ou menos, de 3 em 3 anos. não me chateia.




gosto de ruas que vão dar ao mar. existe sítio melhor para ir dar?
quando morei numa cidade grande, tinha sempre a sensação que as grandes avenidas iam dar ao mar. mas não iam, porque não havia por lá uma pinga de água. que nome se dá ao contrário de oásis?

esta é a rua mais bonita da cidade. só hoje me apercebi. mesmo sem os efeitos na fotografia. e vai dar ao mar.


gosto de acordar uma das minhas melhores amigas da adolescência. chama-se L. tem mau feitio de manhã e gosta muito da praia. gosto de ir com ela passear ao pé do mar com o seu cão. o silva.

o silva era suposto ser o noivo da minha mosca, mas a verdade é que nunca se conheceram (que me lembre) e é  verdade que ando a prometer a minha cadela a mais cães de amigos. acho que são todos de cidades diferentes, por isso é possível que nunca me apanhem na falsa promessa.


desde que tenho 14 anos vou com a L. para a praia. 
passamos 83% do tempo a falar de rapazes e os outros 17 a olhar para eles. mesmo agora que temos 18 continuamos a fazê-lo.

 
 
gosto da sensação de liberdade que o mar me dá. há 15 anos que sou emigrante. em terras diferentes. todas elas sem mar e com uma geografia claustrofóbica.

não voltava a viver na minha terra, para poder regressar a ela sempre enquanto oásis. ser emigrante é ter sempre um oásis à espera. sempre. já me disseram que esse oásis é, muitas vezes uma miragem, mas eu não me importo, porque um amigo me disse o seguinte um dia: há tantas coisas bonitas no mundo e há por aí tanta gente infeliz.