Archive for 2007

"Dig, Lazarus, Dig!!!"


A minha primeira vez foi com o Nick Cave.
Já lá vão muitos anos e depois dele vieram muitos. Dezenas, talvez centenas.
Mas não há vez como a primeira!

Como ainda andava pela pré-adolescência, foi difícil convencer os meus pais. Mas depois de muita insistência - talvez vencidos pelo cansaço - lá cederam e fui transportada de Vila do Conde até ao Porto, com mais 10 amigos, num camião de caixa aberta. Claro que íamos todos "na caixa".

Quase parece um ritual de iniciação e provação.
Imaginem-se uma adolescente de 13 anos. Agora, imaginem qual é a pior coisa que poderia acontecer?
Serem descarregados, em frente ao Coliseu do Porto, antes de um concerto cheio de gente, de uma caixa aberta, de um camião.

Era isso ou não ir ao concerto. E a ideia de sair do camião, na esquina anterior, claro que estava fora de questão. Porque com o senhor meu pai, as coisas são para ser assumidas até ao fim. Sem vergonhas.

Adorei o concerto, claro! E por sorte fiquei, juntamente com uma série de meninas novinhas e giras, entre as grades e o palco. Um confortável privilégio, portanto.

Para mim aquilo era como ouvir o CD, mas melhor, porque tinha ali o Nicolau a cantar em directo. Incomodou-me o histerismo das meninas, que não se conformavam com o facto de eu não tocar no Nick. Senti-me de tal forma pressionada, que lá lhe fui passando a mão pelo pêlo, porque já me começava a sentir como uma Benfiquista infiltrada numa claque do F.C.P.

Mas o que me vai ficar desse concerto, é a história de uma rapariga gótica, de cabelos até aos pés, que conheci nessa noite. Dizia estar muito contente, por estar ali juntinho ao palco e com um pouco de sorte, no fim, escolhiam algumas para ir aos bastidores. Até estremeci de alegria, com a ideia de estar com o Nick, poder fazer-lhe perguntas, conversar com ele... Tocar-lhe ainda era como o outro, mas conversar com ele, isso sim, seria altamente... No meio do seu histerismo e entusiasmo, a tal rapariga, que na altura me parecia mais velha que eu, e por isso teria no máximo 15 anos, contou-me que tinha perdido a virgindade com o baterista dos Tarântula (ou coisa que o valha) e que nessa noite esperava poder "estar" com o Nick ou com o Blixa.

Já tinha tido que ir na caixa aberta de um camião, já tinha tido que tocar no Nick Cave para não ser linchada, mas a ideia de ser a escolhida para ir fazer um "servicinho" a algum dos Bad Seeds causou-me algum desconforto. Não é que eu não gostasse deles, mas parecia-me demais.
Portanto, antes do primeiro "ancore", pus-me na alheta, porque com a minha sorte, lá ia ser eu a escolhida e como é que eu ia dizer que não, à frente daquelas fãs histéricas? É chato...

E isto para dizer que o Nick Cave vai lançar álbum em Março de 2008: "Dig, Lazarus, Dig!!!"
Espero que venha à Península Ibérica. Se assim for, pego na minha amiga Lu - Clarita, para a Blogosfera - e qual adolescentes vamos vê-lo.

Desta vez fico até ao fim.

Pequenina e Ajeitadinha


Quando andava no ciclo, a minha amiga Carolina, emprestava-me a Reader's Digest. Pilhas delas. Não sei bem porquê, ler aquilo, quase me sabia a pecado. O facto de ter forma de livro, dava-lhe uma credibilidade incrível e o seu conteúdo "variado", tornava-a apetecível à leitura.

Ainda hoje me parece uma revista estranha.

Lembrei-me dela a propósito do último post que escrevi, com uma pitada de testemunho real, um pouco de ciência e um toque de espiritualidade. Ahahah...

Já agora, nunca mais ninguém viu a minha amiga Carolina, mas há rumores de que continua com um rabo enormeeee!
Mas não sei, não a vejo há tanto tempo... (suspiro)

Mais Vale Ser Alegre Que Ser Triste...


Um amigo passou um período difícil na sua vida. Consequentemente queixava-se de uma série de problemas. Doia-lhe a cabeça, doia-lhe isto e aquilo, fartava-se de chorar, blablabla... Falou com um amigo médico, que com uma grande naturalidade lhe receitou Xanax, lhe disse que estava com uma depressão e que aquilo a ia ajudar e que, hoje em dia, todos o faziam!

OK, se todos o fazem...

Resumindo: se estás com problemas, droga-te até não conseguires andar de pé e espera que se resolvam sozinhos.

Esta treta toda a propósito do que vem a seguir.

"O stress inibe o sistema imunitário e é um factor que contribui para a maioria das doenças. O organismo desenvolverá sintomas de desgaste e sofrimento, especialmente no que se refere aos órgãos envolvidos. Hipertensão, doenças cardíacas, doenças renais, problemas gastrointestinais, úlceras, dores de cabeça, insónias, depressão e ansiedade, são algumas das doenças que se podem desenvolver. Se esse tipo de situação se arrastar por muito tempo, o resultado é a exaustão.
Há uma forte hipótese de, se tiver algum leve problema de saúde, ele seja agravado pelo stress. “Hoje, pelo menos três quartos de todos aqueles que vão ao médico apresentam queixas relacionadas com o stress,” escreveram Terry Looker e Olga Gregson no seu livro Managing Stress (Controlando o Stress). As pessoas procuram alívio nos tranquilizantes e antidepressivos, que totalizam um quarto de todas as receitas médicas dos Estados Unidos."

(resto do artigo em:
http://www.saudelar.com/edicoes/2001/outubro/principal.asp?
send=stress1.htm)



O Homem do Bigode


Há coisas que me causam uma irritação semelhante, ao do bater continuo de um metal (por exemplo), no tampo de uma mesa...

Acontece muitas vezes nos Telejornais, a propósito de algum "mega acontecimento", pegar em meia dúzia de desgraçados, de preferência com bigode (quer seja homem ou mulher), desdentados, mal vestidos e que falem mal português e fazerem-lhes perguntas difíceis.

Sabe quem é Robert Mugabe? E sabe do que se vai falar nesta Cimeira? Mas o Cavaco Silva sabe quem é?

Ora bem, eu sei o que estas pessoas vão responder, tu sabes o que elas vão responder e o jornalista também sabe também...

So, what's the point? Mostrar a ignorância do povo (que possivelmente se levanta às 5 da manhã e chega a casa à noite cansado), ou um exercício quase que egocêntrico do jornalista (que muito possivelmente acabou de estudar e decorar a matéria, para a reportagem desse dia)?

Sou um bocado sensível nestas coisas e acho que é humilhação gratuita do zé-povinho, sem resultados informativos para ninguém.


Polaroid


Não é preciso ser um grande apreciador de café - basta ser português - para saber, que o café em Espanha é uma merda. Isto é algo que aos nuestros hermanos custa interiorizar (aliás, como qualquer outra coisa, que de alguma forma inferiorize o seu produto nacional. Mas isso é assunto um longo assunto, para outro dia...)
Hoje acordei em Madrid e com sono e precisava de uma bomba de cafeína.
- Hola. Me pones un café sólo, bien cortito?
- Claro, cariño.
A senhora tirou o café, despejou metade na pia e entregou-me o meu café bien cortito, por supuesto.

Este Homem Faz-me Feliz


Ir a concertos tem o que se lhe diga. O momento pré-concerto envolve algumas emoções, difíceis de gerir. Já andava há uns meses a pensar no do Josh Rouse e é com vergonha que digo, que não fiz os trabalhos de casa. Não conheço muito bem os últimos álbuns. Isto não é algo que se admita publicamente de ânimo leve! Oh no... Principalmente, porque gosto muitoooo do senhor.

Os meus medos eram, portanto, inquietantes e qualquer quer um que goste de música, de concertos e tenha um "cantor preferido", entende-me perfeitamente.
E se eu não conhecesse a maioria das canções? Pior... E se eu não conhecesse a maioria das canções E NÃO GOSTASSE DELAS? Pois é! Lá se íam 5 anos de fanatismo por água a baixo e isso é das piores coisas que pode acontecer a um fã! Deixa um vazio pior, que o fim de um livro ou de uma novela.

Mal o Josh tocou os primeiros acordes, os medos dissiparam-se. Tocou antigas e novas (e que boas que elas são). Tenho que ouvir os últimos discos.

Musicalidades à parte, mal vi este senhor entrar em palco, pensei no meu segundo primo trintão, que trabalha na contabilidade de uma loja de ferragens, de Rio Tinto e que ainda mora com a mãe. Calça, blazer e colete - com falta de ferro-de-engomar -, camisa azul e gravata bordeaux. Parecia que tinha acabado de sair do escritório e vinha fazer uns biscates ao Thearo Circo, para ganhar uns trocos para insonorizar a garagem lá de casa, onde ensaia com os amigos ao fim-de-semana. (O barulho dá dores de cabeça à minha tia)

"Obrigado por terem vindo e por terem esperado. Sei que é tarde para uma Terça-feira à noite, por isso vamos lá começar isto, para acabarmos o quanto antes" disse o Josh.

Cada música foi um sorriso e isto para um concerto é dizer muito. Tive pena que ele seja um preguiçoso, porque soube a pouco, mesmo pouquinho.

E lá para o fim, eu sei que ele olhou para mim - embora a Lara JURE que foi para ela. Sei que não foi, mas para deixá-la feliz, deixei-a acreditar que sim. E digo-vos uma coisa, não fosse eu não ter feito o buço nesta noite, não sei o que aconteceria!


2 mais 2


Silvestre em atitude pensativa.

A criança está cada vez menos perdida na cidade. Noto isso nas pequenas coisas.

No outro dia fui ao super-mercado, onde vou com muita frenquência e onde quase toda a gente que lá trabalha é muito agradável. Fiquei triste ao saber que a menina mais simpática da caixa, se vai embora. Suponho que são as pequenas alegrias e tristezas quotidianas, que nos fazem "fazer parte".

A menina da caixa registadora vai-se embora, outra igulmente simpática virá, a minha vida vai continuar exactamente igual, mas por breves momentos tive uma sensação de perda em relação aquela pessoa - cujo o nome desconheço - que me soma, dia sim, dia não, a mercearia!


O Eterno Retorno




Imagina que tinhas que viver a tua vida repetidamente, num eterno retorno, por toda a eternidade, tal como a viveste: com todas as alegrias, tristezas, com todos os detalhes ... Voltarias a fazer tudo da mesma forma?

Quando tenho que tomar uma decisão que me parece importante, penso nisso.

Põe-te confortável Ernesto!


O mundo é constituído por 2 tipos de pessoas: as que mandam na sua própria vida e as que deixam que mandem na sua própria vida.

As segundas são miserabilistas, culpam a sua infelicidade em tudo o que lhes é externo e não se dão conta, de uma vez por todas, que só se anda por aqui uma vez e que só nós podemos decidir sobre nós.

Estou farta que se me venham queixar. Estás mal, põe-te bem, oh Ernesto!

A Cordinha


O mundo está dividido em 2 tipos de pessoas: as que gostam de cães e as que gostam de gatos.

(E segundo o meu amigo PH o mundo está divido em 3 tipos de pessoas: as que gostam de gatos, as que gostam de cães e as que dividem o mundo em 2 tipos de pessoas, mas adiante…)

As que gostam de gatos nunca tiveram cães. E as que gostam de cães, fizeram as escolha certa.

À Prova de Morte

"À Prova de Morte" é o último filme do Tarantino, com o dedo de Robert Rodriguez, num projecto que pretende ser um tributo aos filmes série Z, assim como às salas dos anos 70 que os exibiam.

Não é, nem de perto, nem de longe a sua melhor obra (até porque não chega a ser uma "obra"), mas dá para passar duas horas em tensão e risos, com carros a alta velocidade, gajas giras e falhas técnicas, de som e imagem (como acontecia nos filmes da época).

O realizador continua a presentear-nos com diálogos divertidos e violência gratuita, que de tão exagerada, deixa de nos chocar (ou quase).


Who made Who?

A contra-cultura


A propósito de uma crise existencial de Sexta-feira à noite, aqui vai a sugestão de um livro de um senhor espanhol chamado Luis Racionero, que se chama "Filosofias del Underground".
Basicamente fala do racionalismo enquanto corrente dominante. Explica a Revolução Industrial, que deu origem à actual "Ditadura do Capitalismo" culpada da crise do pensamento ocidental vigente.
E por fim vai expondo as várias correntes de pensamento, filosofias, etc, como contra-culturas que são contestatárias do imperialismo cultural, da ditadura da razão, que abafam e desacreditam e oprimem o que está para além delas.
E para terminar, o racionalismo procura a verdade, as filosfias do Underground o prazer.
"Precisamos de novos valores que estruturem a sociedade para uma nova cultura autoritária, descentralizada, humanística, individualística, imaginativa e espontânea."

Graças a dEUS!



Kiss My Jazz

Já têm muitos aninhos e uma das suas figuras principais é Rudy Trouvé, em tempos guitarrista dos dEUS. Portanto, mais um "agrupamento musical" da cena belga, contemporâneos dos dEUS, Moondog Jr. (mais tarde Zita Swoon), and so on...

Herman Düne

http://www.hermandune.com/

Herman Düne é um músico sueco, que não é de agora, mas que só esta semana descobri. Ainda ouvi pouco, mas do que ouvi gostei. É mais um com a etiqueta de Indie - esse termo tão lato. Aqui o nosso amigo, tem um rock e folk à mistura em canções com uma letras muito interessantes.
Fiquei a gostar ainda mais dele, quando descobri que entre os seus vários projectos paralelos, há um onde juntou à cantora francesa Clémence Freschard para lançar Kreuzberg Café, um disco de versões de Nick Cave, Leonard Cohen e Will Oldham.
Tentei colocar um vídeo, depois tentei pôr uma música aqui no blog, mas infelizmente ainda há coisas que não domino. I'll keep trying.
Fica um link, com um vídeo e uma musiquinha very good very nice:

Será que lhe faltava sal?


Já se sabe como começam estas coisas. Juntam-se meia dúzia para jantar, mais ou menos da mesma idade. Começa por se falar nas últimas viagens/experiências/novidades. Uma pitada de política, arte, de música e cinema (não que as duas últimas não sejam arte). E inevitavelmente um elemento leva-nos até à televisão. "Lembras-te daquela série em que..."

Beverly Hills 90210, Alf, Quem sai aos seus, Macgyver, Missão Impossível, Roque Santeiro...
Que bom que é ter referências comuns.

E depois alguém comenta que estamos a ficar velhos. Todos pensam o mesmo. E vamos para casa com um misto de satisfação e nostalgia.

"Ai, ai... Foi um serão agradável" pensaram todos.

"Merda, ninguém me elogiou a comida. Estaria insossa?" pensei eu.

Importa e Exporta

http://www.lesballetscdela.be/


Eram 6 em palco a dançar e 4 que tocavam - 1 deles cantava.
Havia música barroca e música electrónica, às vezes, misturadas.
Às vezes os músicos eram actores. Houve humor. Drama e crueldade.
Os corpos contorciam-se até ao infinito.
Um espelho da luta pelo poder. Como la vida misma.

“Import Export” é dança, teatro, malabarismo, música e arte visual. Tudo num só espectáculo de uma das companhias de dança contemporânea mais conceituadas a nível mundial.




O menino da lágrima


Enquanto "não-artista", esta foi uma das minhas primeiras influências.

Sou uma não-artista!

Desde pequena que quero ser artista, mas infelizmente Deus nosso senhor não me dotou das características necessárias.

Nunca soube desenhar ou pintar. Quando tinha uns 13 anos, tive um professor de Desenho que me motivou e me fez acreditar que afinal estas coisas também se aprendem. Quase me enganei com o meu futuro sucesso enquanto artista plástica, mas no ano a seguinte mudei de professor e apaixonei-me pelo que tive a seguir. Escusado será dizer que os meus esforços artísticos, logo se transformaram em fantasias amorosas, planos rebuscados de como conquistar o meu professor de 40 anos. Pouco tempo depois achei que o melhor era jogar pelo seguro e seguir a área das letras e o meu relacionamento com o mundo das artes ficou por ali... 14 anos depois casei-me com um pintor e a história ficou arrumada!

Musicalmente é como se tivesse dois ouvidos esquerdos. O meu pai é músico. Tentei aprender a tocar guitarra. Durei uma lição e desisti. Tentei ser autodidacta na flauta. Iniciei-me com o "Parabéns a você". Fiquei-me pelas 3 primeiras notas...

Desgraça. A minha vida enquanto artista estava condenada ao falhanço. Jamais seria uma artista reconhecida pelos meus pares e pelo mundo.

Continuando o meu percurso cronológico enquanto "não-artista" - sim porque isto de não ser artista estende-se a todas as áreas da minha vida, nomeadamente o facto só conseguir ver as coisas de uma forma totalmente linear e cronológica. Tudo o que sai desta linha, não faz sentido. Metaforicamente falando, quando não é assim, é como se entendesse todas as palavras e não entendesse o texto (sendo o texto a vida, claro). Tudo o que é abstracto, ultrapassa-me. Não sou limitada, sou apenas prática.

Voltando à dita cronologia. Durante uns tempos frequentei uma psicóloga. Sem preconceitos! É como quem vai ao ginásio. Ou frequenta aulas de pintura. Tinha algum dinheiro para investir em mim, e achei que os meus amigos andavam sem paciência para ouvir as minhas conclusões sobre a existência humana. Alguns nem sequer estavam à altura para entender as minhas reflexões perspicazes. O melhor era mesmo pagar a uma profissional. Sem complicações. Chegava, sentava-me e abria a goela. Tenho a certeza que a senhora - que tinha mais ou menos a minha idade - de vez em quando deixava de me ouvir. Outras vezes eu pensava na seca que lhe estava dar. Coitada! Mas depois, num acesso de petulância sossegava-me: "É para isso que eu lhe pago". Toma!
Era com ir às putas - e passo a expressão, porque sou uma rapariga com tendências puritano-feministas.

Claro que não posso negar que muitas vezes chegava lá deprimida. Com tristezas e angústias. No início cheguei a pensar, que quando isso acontecesse ela dar-me-ia a solução para todos os meus males. Errado. Segundo ela "A solução está em nós". Tretas. A gaja era uma chupista.

Um dia perguntou-me: "Que gostas tu de fazer? Pintar? Tocar um instrumento? Tens que fazer alguma coisa que te dê prazer." E voltávamos à velha questão das artes. Ser artista já não era um desejo, era uma necessidade para a minha sanidade mental. Raios!

Houve um momento da minha vida em que bailava sem vergonha e com muita alegria. Mas desisti, quando um dia num casamento, um amigo de longa data, que não via há muito tempo, me perguntou: "Andas a trabalhar num saloon?" Não sei que quis ele dizer com isso, mas arruinou-me a festa. Estaria eu com atitudes de puta lasciva, à frente de velhos amigos? Ou será que a minha sensualidade de movimentos o deixou estupefacto? Não fosse o diabo tecê-las, arrumei as sabrinas e deixei de abanar a anca daquela forma. O pior de tudo é que ele nem sequer se deve lembrar disto e a minha carreira tardia de bailaria, caiu por terra.

Depois deste flashback, com direito a vozes com eco e imagem nublada, disse à psicóloga que gostava de escrever. Que até tinha ganho dois prémios na adolescência! Só não escrevia, porque estava à espera do momento certo. Esperava a maturidade para ter algo que contar. Disse-lhe que andava à procura da história certa. Aguardava o sinal divino, a inspiração definitiva. Será que ela não via filmes? Não lia as biografias dos famosos? Estas coisas são assim... De repente algo incrível aconteceria e eu seria uma escritora famosa. Orgulho dos meus pais. Venerada pelos da minha aldeia, como uma vencedora. Não lhe expliquei tudo isso, seria como chamá-la de ignorante. Mas prometi que sim, começaria a escrever.

Passaram dois anos. Nunca escrevi nada. Continuo à espera do sinal dos Deuses. Enquanto não chega, criei um blog. Sem linha editorial, a não ser eu mesma.