Archive for julho 2009

Na Manta


Que planos tens para o dia 17 de Julho?

Coisas de Bairro



Nas frequentes e curtas viagens ao umbigo da Península Ibérica tento ficar sempre no mesmo sítio e estabelecer rotinas, para que, pelo menos, durante esses escassos dias sinta que vivo ali e estou em casa. É como ter uma vida paralela.

Apesar da dimensão da cidade, os bairros (alguns) são acolhedores e familiares, e há um sítio que “me gusta” particularmente. É uma prova de que tamanho não é documento.

É uma livraria pequena, de esquina em pleno bairro de Lavapiés. Sempre que por lá passo lembro-me do filme “Smoke” e que se aquela loja fosse minha, faria como o Harvey Keitel e tirava todos os dias, à mesma hora e do mesmo ângulo, uma foto à rua em frente.

O atendimento é muito personalizado e, às vezes, faço pedidos de livros por temas ou autores específicos, e os donos lá me vão avisando por mail do que encontraram e se é para encomendar e quando por lá passo. Já lhes expliquei que “não sou de cá”, e que “não sei muito bem quando volto”, mas eles respondem-me sempre “quando passares passaste, nós guardamos-te o material”.

Ando a engendrar um plano ultra-secreto. Como eles também vendem livros em segunda-mão, assim que desencaixotar os meus livros, vou fazer uma selecção e oferecer-lhes alguns para que comecem a criar uma mini-secção portuguesa! Não sei se vai colar...

Já que estamos a ser invadidos pelas suas empresas, vamos contra-atacar de alguma maneira. A cultura poder ser um bom começo.

Quando For Grande Quero Ser Espanhola

Há uns anos atrás li um estudo curioso, que dizia que na Europa os homens são mais irascíveis que as mulheres. A única excepção era Espanha, país onde o “sexo fraco”, não é para brincadeira.

O meu contacto com “nuestras hermanas” tem-me mostrado que as espanholas são realmente danadas, têm sempre razão e NUNCA se calam.

Lembrei-me deste facto devido a um acontecimento, há dias, em Madrid e que ilustra bem, e de forma quase caricatural, o que este estudo relatava.

Estava à espera do Metro, encostada a uma estrutura metálica própria para o efeito. Era tarde e já lá estava há uns bons 5 minutos, imóvel, com a minha bela Havaiana dourada. Estava imersa nos meus pensamentos, quando à minha esquerda vejo um rebanho de sexagenárias gaiteiras, produzidas (em roupa e make-up), morenaças e barulhentas aproximarem-se.
Em Portugal, país contido e de brandos costumes, as ditas senhoras poderiam ser artistas de cabaret, ou outra coisa menos “artística” (preconceitos à parte). Em Espanha eram apenas “mães de família”, que tinham ido curtir a matiné da “movida madrileña”.

O grupo foi-se aproximando e quando passou por mim, a loiraça do grupo deu-me uma vigorosa calcadela. Automaticamente soltei um grunhido e fiz cara feia de dores.
De imediato a senhora olhou para mim, duvidando se me teria, de facto, calcado ou se eu estaria apenas a ser possuída pelo espírito que habitualmente assombra o Metro da linha 3. Quando confirmou que sim disse-me com indignação: “¿Es que nos ves donde pones los pies?”, que traduzindo seria qualquer coisa como “Vê lá onde pões os pés”.

O mais normal seria insultar criativamente aquela marafona, trazendo ao de cima a nortenha que há em mim, porque ou era o meu discernimento que me traía, dadas as altas horas da noite e o cansaço da viagem que já trazia no lombo, ou tinha sido aquela bimba de calça branca que tinha calcado o meu delicado e sossegado 39 descalço.

Mas valeu-me a mim (e a ela) ser apenas uma portuguesa recatada, e perante o absurdo da situação não consegui deixar de rir.

Entrei no Metro e fui o resto da viagem a remoer a situação e a sorrir, enquanto a Paquita oxigenada ia indignada, e a rezar entre dentes, por o meu pé se ter colocado debaixo do seu tacão irascível.