Coisas de Bairro

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Nas frequentes e curtas viagens ao umbigo da Península Ibérica tento ficar sempre no mesmo sítio e estabelecer rotinas, para que, pelo menos, durante esses escassos dias sinta que vivo ali e estou em casa. É como ter uma vida paralela.

Apesar da dimensão da cidade, os bairros (alguns) são acolhedores e familiares, e há um sítio que “me gusta” particularmente. É uma prova de que tamanho não é documento.

É uma livraria pequena, de esquina em pleno bairro de Lavapiés. Sempre que por lá passo lembro-me do filme “Smoke” e que se aquela loja fosse minha, faria como o Harvey Keitel e tirava todos os dias, à mesma hora e do mesmo ângulo, uma foto à rua em frente.

O atendimento é muito personalizado e, às vezes, faço pedidos de livros por temas ou autores específicos, e os donos lá me vão avisando por mail do que encontraram e se é para encomendar e quando por lá passo. Já lhes expliquei que “não sou de cá”, e que “não sei muito bem quando volto”, mas eles respondem-me sempre “quando passares passaste, nós guardamos-te o material”.

Ando a engendrar um plano ultra-secreto. Como eles também vendem livros em segunda-mão, assim que desencaixotar os meus livros, vou fazer uma selecção e oferecer-lhes alguns para que comecem a criar uma mini-secção portuguesa! Não sei se vai colar...

Já que estamos a ser invadidos pelas suas empresas, vamos contra-atacar de alguma maneira. A cultura poder ser um bom começo.