Quando For Grande Quero Ser Espanhola

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Há uns anos atrás li um estudo curioso, que dizia que na Europa os homens são mais irascíveis que as mulheres. A única excepção era Espanha, país onde o “sexo fraco”, não é para brincadeira.

O meu contacto com “nuestras hermanas” tem-me mostrado que as espanholas são realmente danadas, têm sempre razão e NUNCA se calam.

Lembrei-me deste facto devido a um acontecimento, há dias, em Madrid e que ilustra bem, e de forma quase caricatural, o que este estudo relatava.

Estava à espera do Metro, encostada a uma estrutura metálica própria para o efeito. Era tarde e já lá estava há uns bons 5 minutos, imóvel, com a minha bela Havaiana dourada. Estava imersa nos meus pensamentos, quando à minha esquerda vejo um rebanho de sexagenárias gaiteiras, produzidas (em roupa e make-up), morenaças e barulhentas aproximarem-se.
Em Portugal, país contido e de brandos costumes, as ditas senhoras poderiam ser artistas de cabaret, ou outra coisa menos “artística” (preconceitos à parte). Em Espanha eram apenas “mães de família”, que tinham ido curtir a matiné da “movida madrileña”.

O grupo foi-se aproximando e quando passou por mim, a loiraça do grupo deu-me uma vigorosa calcadela. Automaticamente soltei um grunhido e fiz cara feia de dores.
De imediato a senhora olhou para mim, duvidando se me teria, de facto, calcado ou se eu estaria apenas a ser possuída pelo espírito que habitualmente assombra o Metro da linha 3. Quando confirmou que sim disse-me com indignação: “¿Es que nos ves donde pones los pies?”, que traduzindo seria qualquer coisa como “Vê lá onde pões os pés”.

O mais normal seria insultar criativamente aquela marafona, trazendo ao de cima a nortenha que há em mim, porque ou era o meu discernimento que me traía, dadas as altas horas da noite e o cansaço da viagem que já trazia no lombo, ou tinha sido aquela bimba de calça branca que tinha calcado o meu delicado e sossegado 39 descalço.

Mas valeu-me a mim (e a ela) ser apenas uma portuguesa recatada, e perante o absurdo da situação não consegui deixar de rir.

Entrei no Metro e fui o resto da viagem a remoer a situação e a sorrir, enquanto a Paquita oxigenada ia indignada, e a rezar entre dentes, por o meu pé se ter colocado debaixo do seu tacão irascível.