Archive for dezembro 2012

BANALIDADES 5.



BANALIDADES 5. janelas com feixes de luz, com tráfego de partículas de pó.

BANALIDADES 3.


Gosto mais de BANALIDADES do que de não-banalidades-grandiosas. Não consigo pensar numa palavra que seja antónimo de banalidade. Diz o dicionário que uma banalidade é uma: [Figurado]  Trivialidade, futilidade. Quem sou eu para contradizer o dicionário da Porto Editora, mas eu acho precisamente o contrário. As banalidades são coisas muito pequenas, apenas vistas ao olho do microscópio e que, por vezes, possuem uma beleza que preenche toda a pupila do olho - por isso as nossas pupilas dilatam perante as coisas que gostamos: são elásticas e adaptam-se ao tamanho da beleza da banalidade. Há banalidades que se vão tornando mais bonitas com o passar do tempo e outras que foram um erro de um microscópio mal calibrado.






cativelos 25122012

BANALIDADES 3.
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A minha avó (na foto em cima) era uma velhinha baixinha, com a cara redonda e uma trança cinzenta de cabelo enrolada na nuca. A única coisa que a impedia de ser uma Senhora  (com  ésse maiúsculo ---> S) por completo, era o seu andar que me relembrava que um dia aquela idosa, vestida de preto dos pés à cabeça, tinha sido uma criança pequena.

Uma vez, na aldeia dela que também é um pouco minha, já eu era adulta, reconheceram-me como sua neta pelo andar (que era o mesmo que o dela, mas em mim). Fiquei surpreendida por ser possível reconhecer a genealogia de alguém pelo andar e percebi, nesse instante, que eu tinha um "andar". É engraçado irmo-nos conhecendo observando o tronco original, que é diferente de nos reconhecermos nele. Isto foi uma herança que ela me deixou - a mim e à minha mãe -, e que é muito maior e permanente que a sua casa de pedra.  Será sempre o que prenderá à infância a sua descendência, mesmo quando tivermos todas mais de 100 anos. 
Há tempos mandaram-me um link sobre uma avó alheia e nunca mais deixei de pensar na minha. Esta avó alheia também veio em forma de BANALIDADE.



cativelos 25122012


A minha avó L., com nome de romance, estava sempre a rir ou a sorrir, mas quando a conheci já não tinha nenhum dente na boca. Apesar disso, ou por causa disso, a sua casa de banho era habitada por uma assustadora dentadura completa de 32 dentes, que vivia num copo de vidro. Uma espécie de T0 envidraçado, com vistas para o lavatório. Esta dentadura aterrorizava-me os minutos que precediam a ida para a cama, quando tinha de lavar os dentes, e faziam-me sair a correr do WC e enfiar-me na cama tapada até à cabeça. O susto rapidamente passava e depressa prendia o pensamento ao penico que habitava a parte de baixo da cama: branco de metal, orlado de preto, que seria a minha salvação se durante a noite me desse vontade de ir à casa de banho novamente. Uma presença mais pacífica que me dava pazpazpazpaz e me arrastava os pensamentos para melhores paragens. O penico de metal branco. Hoje em dia, gostava de ter altura suficiente na cama para lá guardar um penico debaixo. Terei, por ventura, dormido em colchões no chão demasiado tempo?



cativelos 25122012  (PRODUÇÃO DE FILHOSES)


A minha avó cheirava a laranja, gostava de azeitonas e fazia filhozes filhoses no Natal e, sempre que lá íamos à aldeia, fazia um bolo bom que hoje conhecemos como "o bolo da avozinha". (ela) Devia ter alguns defeitos normais de pessoinhas-ser-humanos, mas eu nunca me apercebi de nenhum, nos 12 anos que partilhámos tempo no mundo. E depois, quando morreu, também nunca ninguém lhe apontou más qualidades (más-qualidade: não é isto uma antítese?), mas isso já é uma coisa normal porque, como se sabe, qualquer pessoa que morre imediatamente adquire o estatuto de santo.

Um dia perguntei-lhe porque não usava a tal dentadura na boca, e assim libertava o copo T0 com vistas panorâmicas para a serra. Disse-me que a dentadura não a deixava rir com o tamanho todo da boca, por isso preferia ter um sorriso maior, do que ser mais bonita. Acho que com um sorriso maior ficava automaticamente mais bonita, por isso não insisti e percebi o que ela já sabia. E prontos, é uma das primeiras BANALIDADES de que tenho memória. As memórias também podem ser BANALIDADES bonitas.

BANALIDADES 4. covinhas nas clavículas






Retrato

cativelos, 25.12.1012

Foto de Família.
 Natal 2012

Quando era pequena recebia postais de Natal personalizados da minha família americana. Eram fotos deles próprios, muito bem vestidos e penteados, milimetricamente situados no enquadramento. Nessas fotos havia motivos natalícios, sorrisos e frases profundas lamechas sobre o amor, a família e a época do gingonbele. Eu gostava dessas fotos. De tão parolas kitsch eram mágicas. Gosto de coisas parolas e gosto de coisas mágicas.

dia#0



dia#0



quando o mundo acabou, eu não estava cá.

dia#17


dia#17 para o fim do mundo



o mundo acabou hoje. mas amanhã continuam a faltar 16 dias.

dia#18




dia#18 para o fim do mundo



18 coisas favoritas:  as quartas com a Lillie