9 às 6

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Durante o período de cerca de um ano, tive um emprego das 9 às 6. Todos os dias acordava à mesma hora, apanhava o mesmo metro e fazia o mesmo percurso, de segunda a sexta-feira. Passava por centenas de pessoas diariamente e fixei uma delas. Encontrava-a no percurso do metro ao trabalho e ela fazia o percurso inverso. Talvez morasse por ali e fosse apanhar o metro. 

Era uma senhora um pouco mais velha que eu, magra e elegante e sempre muito bem vestida. Levava sempre uma pasta de couro. Todos os dias tinha o mesmo aspecto sereno e concentrado, nunca parecia ter-se deitado mais tarde do que o costume, ou estar de mau humor, ou de ressaca ou aborrecida.

Não encontrá-la significava que, ou eu ou ela, estávamos atrasadas ou uma de nós estava de férias.

Logicamente nunca nos cumprimentámos e, pelo que me lembro, nunca cruzámos olhares. Nunca percebi se ela me reconhecia diariamente, como eu a reconhecia a ela. 

Passaram mais de 5 anos desde que me cruzei com ela pela última vez e quando fui para o emprego no último dia e passei por ela lembro-me de pensar: “É a última vez que a vejo. Será que vai notar a minha falta?”.

Nunca mais pensei nela.

Há dias dei por mim a fazer o mesmo percurso, por outros motivos, e passei por ela. Ela olhou para mim e sorriu.

Perguntas complicadas, respostas simples. É o que diz o J.