Lição número um

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No seguimento de um post publicado neste blogue a 08.02.2012 (aqui), em que publicamente assumia que não gosto de poesia (tirando a do meu amigo poeta) chegaram duas dezenas centenas milhares de cartas à redação deste blogue. Principalmente de *felts - mais conhecidos por Godás (ver definição aqui) – indignados, e até violentos, por tamanha falta de sensibilidade.

Entre estas vozes que se insurgiram houve uma alma caridosa que se propôs salvar-me das chamas do inferno, enviando-me semanalmente um poema, que me educará poeticamente e me fará mudar de ideias em relação à poesia. Disse que sim, para não dizer que não, pois acredito que a tarefa é inglória. Como aquela vez em que insistiram comigo que se ouvisse Jack Johnson com atenção e estivesse atenta às letras ia gostar muito (NOT) ao que eu respondi “Está bem” sabendo que mentia com quanto dentes tenho (o que é muito, porque tenho-os quase todos de origem).

Quando o primeiro chegou (e único até à data) tremi. Entrei no tal modo poético e abri a alma. E fui gratamente surpreendida pela coisa. Apeteceu-me logo abrir uma nova sexão secção neste blogue dedicada à poesia. Diz a criatura caridosa que me enviou o poema, que este ainda é a testar o meu sentido de humor (check, ainda o conservo). Deve ser uma tática inteligente para me converter, mas sou só eu a especular, visto que piso em terreno desconhecido. Só espero não acabar em algum bar a declarar declamar poesia em voz alta, se isso acontecer conto com a colaboração dos meus amigos, para me matarem impedirem.

Já agora, para quem como eu sofre de deficiência poética e se quiser juntar a este curso rápido de “Aprenda a gostar de poesia em 20 semanas" (resultados assegurados), aqui fica o  primeiro poema.

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto

"Receita para fazer um herói", de Reinaldo Ferreira

* expressão local, de uma pequena tribo vilacondense