Archive for fevereiro 2012

há mais janelas que portas


dez janelas foram o ecrã de dez vídeos de dez artistas (click)

Lição número um



No seguimento de um post publicado neste blogue a 08.02.2012 (aqui), em que publicamente assumia que não gosto de poesia (tirando a do meu amigo poeta) chegaram duas dezenas centenas milhares de cartas à redação deste blogue. Principalmente de *felts - mais conhecidos por Godás (ver definição aqui) – indignados, e até violentos, por tamanha falta de sensibilidade.

Entre estas vozes que se insurgiram houve uma alma caridosa que se propôs salvar-me das chamas do inferno, enviando-me semanalmente um poema, que me educará poeticamente e me fará mudar de ideias em relação à poesia. Disse que sim, para não dizer que não, pois acredito que a tarefa é inglória. Como aquela vez em que insistiram comigo que se ouvisse Jack Johnson com atenção e estivesse atenta às letras ia gostar muito (NOT) ao que eu respondi “Está bem” sabendo que mentia com quanto dentes tenho (o que é muito, porque tenho-os quase todos de origem).

Quando o primeiro chegou (e único até à data) tremi. Entrei no tal modo poético e abri a alma. E fui gratamente surpreendida pela coisa. Apeteceu-me logo abrir uma nova sexão secção neste blogue dedicada à poesia. Diz a criatura caridosa que me enviou o poema, que este ainda é a testar o meu sentido de humor (check, ainda o conservo). Deve ser uma tática inteligente para me converter, mas sou só eu a especular, visto que piso em terreno desconhecido. Só espero não acabar em algum bar a declarar declamar poesia em voz alta, se isso acontecer conto com a colaboração dos meus amigos, para me matarem impedirem.

Já agora, para quem como eu sofre de deficiência poética e se quiser juntar a este curso rápido de “Aprenda a gostar de poesia em 20 semanas" (resultados assegurados), aqui fica o  primeiro poema.

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto

"Receita para fazer um herói", de Reinaldo Ferreira

* expressão local, de uma pequena tribo vilacondense

quiche de flores

Nem só de sabão vive o homem


Numa época do industrial, massificado, plástico, rápido, impessoal, despersonalizado e etc, vão bem-sucedendo conceitos orgânicos e biológicos e personalizados e o nome que lhes quisermos dar.

Para além dos objetos de autor que se vão encontrando aqui e ali, há os conceitos de autor(es), que repensam alguns modelos atuais. 

Lembro-me de alguns como os jardins verticais, a agricultura urbana e a cultura (deixem-me inventar um conceito) biológica.

O que é a cultura biológica?

Conceito de AgriCultura Biológica (adaptado daqui click)
A agricultura biológica é um tipo de agricultura que dispensa a utilização de todo o tipo de produtos químicos quer na fertilização, quer nos tratamentos, permitindo assim a obtenção de produtos biologicamente puros e isentos de qualquer poluição agrícola cultural. Pretende-se assim aumentar o valor nutritivo dos alimentos das ideias e simultaneamente manter um elevado grau de fertilidade do solo da imaginação e pensamento crítico.
Este tipo de agricultura é, em certa medida, um regresso ao passado pois coloca de novo a ênfase na associação entre a policultura e a criação de gado pessoas, na rotação e diversidade de culturas e na utilização de fertilizantes fertilizantes naturais tal como o estrume as ideias próprias em lugar de adubos químicos pensamentos de massa, o que favorece a vida microbiana e impede o surgimento de determinadas doenças.

Um dos exemplos recentes deste conceito biológico de cultura, e inserido já em 2011, na programação da Capital Europeia da Cultura, foi e é o Guimarães noc noc. Este movimento deixou nas mãos dos artistas a responsabilidade de mostrar o seu trabalho, tornando os lugares mais improváveis (casas particulares, garagens, ruas, esquinas, edifícios devolutos, etc) tão válidos como qualquer museu ou galeria, mas desburocratizando todo o processo de mostra. Com isso aproximou público e artistas. E juntou artistas de variadas áreas (em 2011 foram 300, por exemplo), de onde resultaram novas colaborações e novos trabalhos. Usando um paralelismo algo bastante rebuscado com a ideia de McLuhan que "o meio é a mensagem", parece que para o G noc noc, o espaço físico (galerias e museus que carimbam a qualidade dos trabalhos) deixa de ser a mensagem, transformando o artista - e a sua obra - na mensagem. Sem intermediários de colarinho branco.


Para contextualizar, convém referir que este movimento nasce e cresce num momento em que a comunidade artística e pensante local estava de costas revoltadas a um grandioso e imponente importante evento - CEC 2012 -, que se esquecia desta "cultura biológica" e se fechava em conceitos complicados e rebuscados e que ninguém (ou pelo menos eu) entende verdadeiramente. Isso e de grandes nomes. Quando na verdade tudo o que as pessoas queriam eram um raminho de manjericão plantado num vaso de barro, no parapeito da janela. E foi um sucesso.


Daqui, aqui já sou eu a atrever-me a dizer, surge uma nova artéria no direcionamento da Capital da Cultura. Não digo que seja a artéria principal, mas que se torna imprescindível (este aproximar da arte às pessoas e dos artistas ao público, fazendo com que o público deixe de ser um espetador passivo e que o artista seja menos hermético). Talvez seja uma tendência geral, e não apenas local. No seguimento deste bater às portas, nasceram projetos que seguem a "linha biológica"Ou usando as novas palavras da instituição: eu faço parte. Ou como trazem outros ao peito: eu faço parte.

Um deles é Cartografias da Memória e do Quotidiano, que por um lado documenta o processo de produção, e por outro convida o cidadão a pegar num mapa e a procurar os outdoors distribuídos pela cidade e região.

 


Mas na verdade, serve este texto para contar que recentemente conheci uma banda portuguesa, num evento que se chama Mi Casa Es Tu Casa, também no âmbito da programação CEC 2012. Passei um belo dia de casa em casa, a tentar ouvir bandas - umas conhecidas e outras menos - em salas de estar de pessoas que não conheço. 

A banda que vi chama-se Anaquim (Ana & Quim ou Anakim Skywalker?), e só para situar quem não conhece, eu diria que são uma espécie de Sérgio Godinho, de óculos de massa, na casa dos 30 e com uma pitada de crítica político-social e que se riem deles próprios (auto-humor?).

É provável que esta banda nunca me chamasse a atenção, não fosse a proximidade e o ambiente "biológico" durante o concerto.

E tive a sorte de ver o concerto numa das casas (construída nos anos 60) mais bonitas belas, onde jamais estive. A foto que se segue é de lá.


drimiri@aCasaMaisLinda








 

Thank you, Sherlock!


Situação. Alteração de endereço em várias instituições, nomeadamente no banco.
Cenário. Um banco


Eu: Bom dia. Mudei recentemente de endereço, fiz as alterações necessárias aqui no banco na altura, mas desde então deixei de receber a vossa habitual correspondência. Gostava de saber se deixaram de me enviar cartas, ou se haverá outra irregularidade qualquer.

Senhora do banco: Confirme-me o endereço novo. 
(enquanto olha para o ecrã do PC)

Eu: Rua do Blá Blá, número Blá. Blá blá.

Senhora do banco: Está correto. Está tudo ok.

Eu: Mas mandam-me correspondência, como sempre, ou deixaram de o fazer? É que deixei de a receber cartas vossas no novo endereço.

Senhora do banco: Isso não lhe consigo dizer aqui.
(olhando novamente para o PC)

Eu: Onde posso averiguar esta situação?

Senhora do banco: Na sua caixa do correio.

"It’s just that there comes a point where the facts don’t matter any more, and even though you know everything, you know nothing, because you don’t know what anything felt like. That’s the thing about stories, isn’t it? You can tell someone the facts in ten seconds, if you want to, but the facts are nothing."

Slam, de Nick Hornby (click)

sétimo céu

drimi@circuloDEbellasArtes
parece-me sempre um privilégio ter acesso a Madrid de cima. desde que lá cheguei pela primeira vez, há 51 anos atrás, sempre andei de cabeça no andar a olhar para o céu e para os telhados, perguntando e fantasiando o que se passaria nos últimos andares daqueles edifícios não tão altos, mas muito maiores que eu.

continuo a achar que lá em cima, nas últimas varandas e terraços, acontecem coisas diferentes de cá de baixo e, por isso, sempre que posso ou me deixam vou até lá cima e espero, às vezes sentada, que algo aconteça. nunca aconteceu nada, porque ainda não estive na hora e sítio certo. mas tenho quase a certeza, que quando ninguém olha, grandes coisas se passam naqueles últimos andares.

com a desculpa de uma exposição menos interessante, subi ao sétimo andar do Círculo de Bellas Artes e passei lá várias horas - de meio da tarde até ao anoitecer - em vigília. 
  
No café majestoso do rés-do-chão deste espaço - já sei que não são terraços, nem últimos andares - juntam-se grupos de, 3 ou mais, senhoras com belas fatiotas, cuidados penteados e bâton, rímel e blush, à volta de cocktails e bules de chá. Provavelmente conversando sobre o que se passa lá em cima.







 


Estranha normalidade




Um dos espaço mais interessantes de Madrid é um antigo matadouro industrial de gado chamado Matadero Madrid. Os seus cerca de 12 hectares e arquitetura industrial de fim do século XIX - que se mantém intacta -, albergam propostas artísticas transversais e contemporâneas. É um local que merece ser visitado enquanto espaço e, claramente, pelos trabalhos que acolhe.

Recentemente passei por isto.

"El colectivo Biernes y Matadero Madrid han creado un programa de actividades, bajo el nombre Lo normal es muy raro,  para fomentar el uso de la bici: exposiciones, carreras, conciertos, DJ´s, exhibiciones, torneos, mesas redondas, proyecciones, paseos y talleres para todos los públicos. 
Diez semanas para cuestionar la forma en que nos movemos. Diez semanas para celebrar la cultura de la bici.
 
Lo normal es muy raro se articula alrededor de una exposición de retratos fotográficos de personas y de bicis pero también de mensajes que exponen y cuestionan nuestra habitual manera de desplazarnos, poniendo sobre la mesa el asumido modelo de movilidad que adoptamos y padecemos acríticamente. Está diseñada por Viernes (comunicación socialmente responsable) y realizada por el fotógrafo Eduardo B. MuñozComo pretenden todos los proyectos de Biernes, esta es una nueva excusa para que cojas tu bici y vayas a un sitio."
 
fotos de fotos by drimi@madrid


ontem ofereceram-me o que é, até à data, a melhor prenda de 2012. um caderno igualzinho ao que eu tinha no 5º ano para Língua Portuguesa.