História cabeluda

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Quando recebo um convite para ir a um casamento a minha reação imediata é de felicidade e sinto-o como um elogio: duas criaturas que vão celebrar a oficialização do seu amor, junto aos seus entes mais queridos, incluem-me nesse restrito grupo (que pode chegar às 500 pessoas).

Poucos dias antes da festa (entre 1 a 2), entro em pânico. O que vou vestir? E se estiver frio? E se chover? O que vou calçar? Tenho carteira a combinar? Que acessórios levo? O anel combina com a pulseira? Devo levar anel e pulseira ou só anel? Será demasiado? Os sapatos magoam-me? Muito? Pouco? Estão engraxados? A lista pode ser interminável... 

Uma das questões que nunca me preocupou demasiado foi o penteado: lavado e seco em casa, de preferência bem esticadinho.

Como a minha mãe me tem dito, quase diariamente, que já estou a ficar uma mulherzinha, a última vez que fui a um evento desta natureza decidi ir ao cabeleireiro “fazer um penteado”. Como detesto o look “recém saída do cabeleireiro”, quando o senhor me perguntou: “O que vai fazer?” eu respondi “Apanhado, mas meio despenteado, está ver?” Ele acenou com a cabeça positivamente, mas à medida que o processo avançava, percebi que não.

Pouco interessa o resultado. Depois de algumas indicações, à minha medida, acabei com um trança daquelas “embutidas” e uns pêlos rebeldes aqui e acolá. Satisfatório q.b.

Meia hora depois do início das atividades, a instalação capilar estava feita e eu prontinha para a festarola. Dirigi-me ao balcão e perguntei: “Quanto é?”. Os segundos que se seguiram foram de tontura, náusea e quase desmaio.

- 74.35.
- 74.35 euros?
- Sim. 74.35.

Por momento imaginei-me a arrancar o couro cabeludo e a devolver-lhes o serviço. Mas na verdade foram eles que me arrancaram couro e cabelo.

A ignorância é uma coisa muito triste. Como nunca tinha feito tal coisa, não fazia ideia se estava a ser roubada à mão armada ou se seria um preço razoável.

Depois de uma intensa investigação (nesse mesmo dia e durante a boda – é triste eu sei), percebi que provavelmente paguei mais do que a noiva. Ou melhor, devo ter pagado mais que todas aquelas cabeças juntas. E não, não se enganaram porque passados uns dias fui confirmar o preço de tabela ao estabelecimento.

À noiva pedi que olhasse bem para mim durante toda a festa, e que se deleitasse ao máximo com o que eu tinha na cabeça, uma vez que aquilo seria a sua prenda de casamento. Para me sentir melhor, não lavei a cabeça durante os 10 dias seguintes e desta forma rentabilizei o investimento.

Moral da história: nunca compres nada sem antes perguntar quanto é. Principalmente se não puderes devolver no fim.


                                                                                           drimir@santiagoDEcompostela2011