Os filmes são como as pessoas. Há uns que prometem muito logo desde o início e depois ficam aquém das expectativas. E outros que começam devagar, levando-nos até a soltar um suspiro de aborrecimento pelo meio, e que se vão intensificando até se entranharem em nós. E duas horas depois continuam a mexer connosco… e no dia a seguir continuam agarrados aos nossos pensamentos. É o caso de “Um Ano Mais”, o último de Mike Leigh.
O filme anda à volta de um casal de meia-idade, Tom e Gerri, que tem uma vida normal e pacata, a quem nada de extraordinário acontece. Não são demasiado bonitos, nem demasiado ricos, nem há nada neles que se destaque particularmente, a não ser algumas personagens “disfuncionais” que gravitam à sua volta. E essa aparente normalidade do casal, quase se torna uma lupa de aumento para a disfuncionalidade dos que os rodeiam.
Este filme vive das ricas personagens e dos diálogos profundos. E fala de solidão, de escolhas, de fim ( da vida) do passar do tempo... O mais provável é sairmos da sala do cinema desesperançados e com um vazio no estômago, mas depois de ruminar um pouco a história facilmente podemos perceber que aqui , tal como na vida real, há dois tipos de pessoas: as que vivem de amarguras do passado (ou presente), trazendo-as agarradas a si a todos os momentos, e as que vivem cada dia tentando ser melhor pessoas, fazendo um esforço para serem felizes e de preferência com um sorriso nos lábios. Quer estejam sozinhas ou acompanhadas!
Cada uma das personagens de "Um Ano Mais" existe nas nossas vidas, com outros nomes e outras caras. Mas também somos cada uma delas.
Estava à espera de um murro no estômago, em vez disso vim do cinema com uma ferida pequena, que está a crescer. Espero que não acabe em gangrena.