Archive for outubro 2011

ladrão de chiclas

Por falar em chuva, Gore-Tex e Canadá (click), voltei a um clássico (click).



Nada como um conjunto bem amanhado de criaturas infelizes, sem futuro profissional à vista, vindo do seio de famílias desfuncionais para alegrar a chegada do outono e do frio e da chuva. Falo de The Gum Thief de Douglas Coupland (click), que consegue embrulhar os universos mais desesperançados e cinzentos, em ironia e sentido de humor.

Há sempre muito conforto em ler autores “favoritos”. É quase como tomar café com um amigo de longa data: é confortável, familiar e o tempo passa sempre a correr. Nunca aborrece. Mesmo quando achamos que não estamos in the mood.



“Maybe memories are like karaoke - where you realize up on the stage, with all those lyrics scrawling across the screen's bottom, and with everybody clapping at you, that you didn't know even half the lyrics to your all-time favourite song. Only afterwards, when someone else is up on stage humiliating themselves amid the clapping and laughing, do you realize that what you liked most about your favourite song was precisely your ignorance of its full meaning - and you read more into it than maybe existed in the first place. I think it's better to not know the lyrics to your life.” 

Douglas Coupland, The Gum Thief


E depois até descobri que se a meio me aborrecer, posso passar à versão animada do livro, feita por um estúdio também ele canadiano que se chama crush (click).
Muitos escritores sairiam a ganhar com esta solução animada.

Aqui fica um vídeo. Aqui (click) há mais! 





emigrantite

emigrante
(latim emigrans, -antis)
adj. 2 g. s. 2 g.

Que ou quem emigra ou sai da sua região ou do seu país para se estabelecer noutro.




as manhãs são mais bonitas e tranquilas quando acordo por cá. apetece-me sempre fazer mil coisas ao mesmo tempo e acabo, quase sempre, por passar a manhã à mesa a rir-me de coisas parvas, que tenho vergonha de contar aqui.

tenho um amigo que tem vergonha de comprar papel higiénico. e preservativos. isso não me faz rir, mas não percebo.

muitas vezes rio-me do que não percebo.

por cá os passeios, mesmo quando estreitos, têm o tamanho à minha medida.
é bom saber que nunca estou grande demais, nem pequena demais. tenho o tamanho certo, apesar de achar que fico mais pequena do que o costume. não sei se encolho com a humidade marítima. não tenho a certeza.




os sinos tocam mais baixinho aqui. juro.
nem sabia que existiam sinos nas igrejas até me mudar de cidade.



o almoço vem de bicicleta. do mar e sempre sempre bem-disposto, mesmo sabendo que vai ser comido. 

hoje lembrei-me que pior do que uma máquina de roubar a metafísica aos homens, seria uma máquina que roubar a capacidade de nos rirmos de nós próprios. ou de nos rirmos e ponto final. espero que ninguém a invente.





às vezes encontro o meu melhor amigo de infância. tem um gato que se chama tarzan. dos 6 até aos 18 anos via-o todos os dias (ao amigo, não ao tarzan). agora vejo-o, mais ou menos, de 3 em 3 anos. não me chateia.




gosto de ruas que vão dar ao mar. existe sítio melhor para ir dar?
quando morei numa cidade grande, tinha sempre a sensação que as grandes avenidas iam dar ao mar. mas não iam, porque não havia por lá uma pinga de água. que nome se dá ao contrário de oásis?

esta é a rua mais bonita da cidade. só hoje me apercebi. mesmo sem os efeitos na fotografia. e vai dar ao mar.


gosto de acordar uma das minhas melhores amigas da adolescência. chama-se L. tem mau feitio de manhã e gosta muito da praia. gosto de ir com ela passear ao pé do mar com o seu cão. o silva.

o silva era suposto ser o noivo da minha mosca, mas a verdade é que nunca se conheceram (que me lembre) e é  verdade que ando a prometer a minha cadela a mais cães de amigos. acho que são todos de cidades diferentes, por isso é possível que nunca me apanhem na falsa promessa.


desde que tenho 14 anos vou com a L. para a praia. 
passamos 83% do tempo a falar de rapazes e os outros 17 a olhar para eles. mesmo agora que temos 18 continuamos a fazê-lo.

 
 
gosto da sensação de liberdade que o mar me dá. há 15 anos que sou emigrante. em terras diferentes. todas elas sem mar e com uma geografia claustrofóbica.

não voltava a viver na minha terra, para poder regressar a ela sempre enquanto oásis. ser emigrante é ter sempre um oásis à espera. sempre. já me disseram que esse oásis é, muitas vezes uma miragem, mas eu não me importo, porque um amigo me disse o seguinte um dia: há tantas coisas bonitas no mundo e há por aí tanta gente infeliz.

Miss D. - parte II

Sobre o último post dos meus super-poderes, terminei com a seguinte frase "Vou começar já a desejar que a projeção do filme “As Aventuras do Tintin”, mais logo, saia gorada." Jantei e fui ao cinema,

Pois bem, durante o filme a luz falhou. E foi geral. Toda a cidade ficou às escuras durante uns minutos. Não queria acreditar. Lá estavam os meus super-poderes em ação novamente. Mas voltei a desejar rapidamente que a luz viesse e o filme continuasse. Até estava a gostar, tinha lá muitos amigos que estavam a gostar e fiquei com medo que a minha cara-metade lesse o meu blogue e percebesse que aquilo tinha sido culpa minha. Ele também estava a gostar.

Isto de ter super-poderes não é fácil e é preciso usá-los sempre para fazer o bem (como não ir trabalhar ou faltar à ginástica).

Foi a lição do dia.

Miss D.

Há dias que ando com um segredo a esmagar-me o peito: é provável que eu tenha super-poderes. Tenho acompanhado alguns super heróis desde que sou pequena, mas nunca pensei: E se fosse comigo? Pensamos que estas coisas só acontecem aos outros, mas não. Sou uma super-heroína.

Há uma semana levantei-me às 4 da manhã em estado de sonambulismo total. Fiz uma viagem de carro de 50 km noite dentro para chegar ao aeroporto e apanhar o voo das 6 da matina, estacionei o carro e acordei (sim, por esta ordem). Enfrentei uma fila gigantesca para passar o controlo do aeroporto, aguentando estoicamente gente que se me colava nas costas (na fila). Sentei-me a comer um croissant e um café e levei com o café do senhor que estava sentado na mesa ao lado, que ainda devia estar a dormir, ao contrário de mim que acordei mal estacionei o carro. Depois enquanto saboreava o meu café matinal, com as pernas ainda quentinhas do café alheio entornado, desejei ardentemente que o meu voo fosse cancelado e eu não pudesse viajar e consequentemente pudesse faltar ao trabalho com uma desculpa plausível e de consciência tranquila. Dito e feito. Não voei.

Passei o resto da semana a arranjar motivação para ir ao Yoga. Hoje não, porque tenho mesmo que trabalhar. Hoje não, porque tenho mesmo que arrumar estas gavetas. Hoje não, porque não me apetece (tal como das outras vezes). Ops, hoje esqueci-me (claro). Até que chega o último dia da semana e penso: “Bem, tem mesmo de ser. Ando a pagar e até me vou sentir melhor depois. E o que custa é sair de casa. E vais ver que até te divertes e não custa assim tanto, afinal já não vais há 2 meses e andas a pagar... Não me apetece. Não vou. Vou. Não vou. Vou atirar esta moeda ao ar, se sair cara vou, se sair coroa vou para o sofá. Merda, saiu cara. Vá, à melhor de três... Merda, cara. O universo está a dizer para ir.” Vesti a fatiota sexy, saí de casa e, a caminho, desejei ardentemente que a aula tivesse sido cancelada. Guess what? Exato! Cancelada.

Duas vezes na mesma semana. Até a mim me está a custar aceitar esta nova vida, onde tudo o que desejo acontece! Vou começar já a desejar que a projeção do filme “As Aventuras do Tintin”, mais logo, saia gorada.

Ainda não estou a par do protocolo super-heroína, mas acho que neste caso não é exigido um super-fato! Pena…

i ♥ ny


ando viciada nesta música♥

se tivesse que dar outro nome a esta música chamava-lhe: eu, tu e o gato (no sofá.cama)

ver mais (click)
♥roubado (click).

fauna estrangeira


sabe bem constatar o óbvio: chegou o outono. tenho a certeza que hoje é a ideia mais difundida pelo ciberespaço. é sempre bom fazer parte de uma maioria iluminada.

saí de casa, molhei os pés e fui tomada por um desejo. este ano quero um calçado de Gore-Tex. mesmo que seja feio.

Gore-Tex é um animal que cresce no canadá.

Tempo es lo que no falta!

Sem querer fui parar a um workshop de fotografia promovido pelos Encontros de Imagem.
Era dado por Vari Caramés, um fotógrafo galelo. De lá trago um caderno cheio de frases bonitas, ditas por alguém que claramente é apaixonado por fotografia. Não há nada mais inspirador do que ouvir falar um homem apaixonado.




Trago também um pequeno livro com o seu trabalho, que se chama "La Boda, 2002" que teve a amabilidade de nos oferecer.
Terminou o workshop dizendo, numa mistura de galelo e português e, com uma grande gargalhada: "Hay tempo. Sempre hay tempo. O importante é pasarlo bien y não fazer daño na cabecinha".

Ficam algumas fotos dele, escolhidas aleatoriamente. Vale a pena procurar mais.






 (...)
Nas miñas fotografías hai inevitabelmente unha fixación: a xanela, que é, na maioria dos casos, imaxinaria.
Xanela como símbolo do mirar, do esculcar, do ver o mundo, ou a vida como "a través de", "de dentro cara a fóra", "de fóra cara a dentro".
Creo que nunca se mira o suficiente ao fondo das cousas, nin tan sequera á superficie, e é en todo isto onde está a maxia, o soño...
(...)
Opino que todo está feito e inventado hai tempo. Polo tanto sobran definicións, fórmulas, estilos, etc.
Particularmente sinto unha fascinación especial polo intemporal, indefinido, etéreo e vello. Nunca me gustaron os traxes novos. Prefiro as abstraccións e os defectos con efectos.
O misterio é a néboa das cousas, de todo o que nos rodea. Encántame o que non podo ver. Quédome co íntimo, cun aroma, unha fragancia, unha ausencia.
Todo isto non son máis que contradicións pero precísoas para poder vivir. Poida que a vida sexa unha especie de álbum de lembranzas no que cada páxina está preñada de existencias.
¡Oxalá que nunca falten as existencias!

Vari Carames

fome faz frio


Quando chega o frio gosto de comer. E gosto de comer, de uma maneira geral. Mesmo com calor.

Descobri a beringela recentemente, quando em 2002 a minha amiga Patrícia levou para o trabalho uma beringela recheada, feita pela mãe. Nunca mais esqueci a beringela e de vez em quando tento fazer receitas. A mais fácil e rápida é a grelhada. 


Cortar as beringelas em rodelas médias
Temperar com sal grosso
Usar um guardanapo para untar uma sertã com azeite
Colocar as rodelas e colocar em fogo médio
Tapar a sertã, quando estiver tostada virar e colocar manjericão, rodelas de banana e sementes de sésamo por cima da parte já tostada
Esperar até tostar do outro lado




Adoro panquecas. Quando não tenho recheio para elas coloco quadradinhos de chocolate, quando ainda está o lado B a cozer. As panquecas fazem-me lembrar os USA.

receita dos sonhos

Descobri neste livro a materialização de um aparelho incrível, que existe em várias formas: "…uma terrível máquina de roubar a metafísica aos homens." 

Acho maravilhoso e mal saia à venda compro uma. Branquinha, para fazer conjunto com o iPhone! Se não for muito caro, compro também esta esfregona rotativa que vi esta madrugada num programa da televendas e que me parece funcionar mesmo. Principalmente às 5 da manhã. 

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cumpri um sonho de longa data. fiz biscoitos de aveia.

conclusão: receita dos sonhos vem em forma de biscoitos de aveia.
ainda bem que não fiz sonhos. é difícil comer a metafísica. ao contrário de roubá-la.


                                                                                                                                                                                                drimi@biscoitosDaveia2011

9 às 6


Durante o período de cerca de um ano, tive um emprego das 9 às 6. Todos os dias acordava à mesma hora, apanhava o mesmo metro e fazia o mesmo percurso, de segunda a sexta-feira. Passava por centenas de pessoas diariamente e fixei uma delas. Encontrava-a no percurso do metro ao trabalho e ela fazia o percurso inverso. Talvez morasse por ali e fosse apanhar o metro. 

Era uma senhora um pouco mais velha que eu, magra e elegante e sempre muito bem vestida. Levava sempre uma pasta de couro. Todos os dias tinha o mesmo aspecto sereno e concentrado, nunca parecia ter-se deitado mais tarde do que o costume, ou estar de mau humor, ou de ressaca ou aborrecida.

Não encontrá-la significava que, ou eu ou ela, estávamos atrasadas ou uma de nós estava de férias.

Logicamente nunca nos cumprimentámos e, pelo que me lembro, nunca cruzámos olhares. Nunca percebi se ela me reconhecia diariamente, como eu a reconhecia a ela. 

Passaram mais de 5 anos desde que me cruzei com ela pela última vez e quando fui para o emprego no último dia e passei por ela lembro-me de pensar: “É a última vez que a vejo. Será que vai notar a minha falta?”.

Nunca mais pensei nela.

Há dias dei por mim a fazer o mesmo percurso, por outros motivos, e passei por ela. Ela olhou para mim e sorriu.

Perguntas complicadas, respostas simples. É o que diz o J.

picolé


queria isto e depois já não peço mais nada até ao natal.

está aqui.

as histórias crescem nas árvores





  

















Descobri um aparelho que faz o mesmo que os meus olhos. É uma máquina fotográfica que olha para o azul e diz que é branco, olha para o amarelo e diz que é branco, olha para o preto e diz que branco. Depois calibra toda a realidade circundante a partir daí.Do branco.

Desse branco nascem as minhas histórias e às vezes as histórias crescem nas árvores.





Manual de instruções para veres as tuas histórias:

- Clicar numa imagem. Ir ao Youtube, ou site similar, e procurar um som. Evitar canções. Ver com os ouvidos as histórias que crescem nestas árvores, e que estão para além das imagens. O som serve para distair os olhos a ver melhor. As fotografias são só uma desculpa.

- Número máximo por pessoa: 2 histórias, com duração máxima de 3 minutos cada história.

- Se a história for boa recomenda-se lavar as mãos no fim (com um sabonete ou gel de cheiro aprazível) e lembrá-la durante o dia levando as mãos ao nariz, recordando através do olfato. Aconselhável reter o odor na memória para o futuro.

- Se a história for desagradável, navegar pela Internet em busca de sites bonitos e simpáticos.

paixões outonais

não sei se é por causa desta reedição de primavera 2011, cheia de sol e pássaros em pleno outono, mas por estes dias ando com tendência para me apaixonar perdidamente.

há dias apaixonei-me por uma imagem. No G noc  noc. Infelizmente não a consigo localizar. Por isso guardo-a na memória.

hoje quando acordei dei de caras com um novo poema do J e fiquei sem palavras. Porque na verdade elas estavam lá todas. Eram poucas, mas nelas cabia tudo. E era assim:


Não caber não é mais
que uma forma deselegante
elefantina de morrer.
 
Pedro Carreira de Jesus, Inédito, 2011
 
aqui há mais.

e depois lembrei-me que no verão também me apaixonei por uma voz. E pela forma de cantar. E confesso que nem gosto muito de fado. Mas senti-me aconchegada e numa envolvência familiar e confortável. E tinha-me esquecido disso. E era este senhor.
 


e é isso. devo andar a acumular paixões para o inverno que aí vem.